Era uma noite de despedida da lua cheia.
Havia uma briga no céu entre as estrelas e as trovoadas.
A chuva venceu, embora tenha ficado por pouco tempo.
Estava tudo sombrio demais.
Abri a porta já pensando em como estaria a visitante que chegou na véspera.
Eu não a encontrei. Deve ter escapado da tortura!
Como estava cansada, retirei os sapatos, sentei-me de frente
a televisão, e relaxei o corpo que trabalhou duras horas.
Fui me banhar para aliviar meu corpo do calor do dia.
Ao entrar no banheiro, notei a presença dela. Ali no cantinho.
Eu fiquei pensando se ainda restava um fio de vida, mas a coloração
da pele, em tom meio azulado, denotava a morte certa.
Não tinha mais nada a fazer senão aceitar que o fim sempre chega;
lamentei por ela ser tão jovem cuja idade remetia à inocencia.
Voltei a sentar no sofá para me recordar de como foi a noite anterior :
* * *
Olhei à esquerda e notei que minha filha estava brincando com ela.
Eu alertei :
- Não pode, assim voce vai matá-la. Ela ainda é uma criança!
Ela me encarou, respondeu num tom de voz baixo, mas contestador
e voltou a cutucar a vítima.
- Não pode. A doutora já disse que faz mal, muito mal.
Ela olhou novamente para o meu rosto, antes de se acomodar no sofá, disse:
- Miiiiiiiiiiiii..............
Era meu dever dar uma chance aquela jovem.
Com muito cuidado, eu a conduzi a um canto seguro da casa
a fim de que se protegesse e fosse embora.
Imaginei que logo recuperaria a parte que foi perdida.
Só que depois, durante minha ausencia,
bastaram algumas horas para que o ato fosse consumado.
Certamente, o ultimo suspiro se deu simultaneamente
a queda dos pingos de chuva.